quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aula 13 Não existe inflação de custo

A idéia de inflação de custos é criticada de duas formas. Primeiro, os monetaristas afirmam que ainda que existam variações de preços relativos, não haveria inflação se a política monetária não “ratificasse”a rigidez dos preços nominais emitindo mais dinheiro. Depois, como estudaremos nesta aula, analisando quantitativamente quanta inflação pode ser gerada por aumentos de preços importantes como salários, preço do petróleo ou variação da taxa cambial. A aula está baseada no artigo de Brainard e Lowell mencionado na lista de leitura. A questão é saber qual o impacto do aumento de preço de um produto isolado em todos os demais preços da economia. O preço do petróleo, por exemplo, afeta o preço dos transportes, da energia e, portanto de todos os outros preços da economia. Deveria ser importante para explicar os preços de todos os outros produtos e, portanto da inflação. Para esta análise vamos usar o modelo de Leontieff que analisa a interrelação entre a produção de todos os bens da economia. Cada bem produzido pode ser utilizado como input de outros bens e como produto final. Assim, o aço é insumo da produção de automóveis, geladeiras, construção civil, etc. e ao mesmo tempo é utilizado como produto final quando é estoque para ser usado nos anos seguintes ou quando é exportado. Leontieff supõe que todos os produtos sejam insumos de outros produtos e produtos finais para consumo, investimento ou exportações. E cada produto usa uma determinada quantidade de trabalho. A produção é a coeficientes fixos. Aij é a quantidade fixa do produto i utilizado na produção de uma unidade do produto j. A demonstração matemática será dada em aula e apresentada de forma imperfeita em nota a baixo. Os resultados importantes são O aumento de um por cento no preço do produto x causa um aumento de um por cento vezes a participação da produção bruta ( produção final mais intermediária) no produto nacional bruto. Exemplo: se a produção total de petróleo representa 10% do produto nacional, um aumento do preço de 10% no preço do petróleo causa um aumento de dez por cento de dez por cento, um por cento , no nível geral de preços quando se consideram os efeitos diretos e indiretos do aumento de preço inicial. É um resultado muito baixo, não explica a importância do petróleo. O aumento final será ainda menor se alguns setores forem competitivos e não conseguirem repassar o aumento do preço do petróleo. Portanto, levando em conta o impacto direto e indireto de um aumento de preços sobre os custos, o resultado final de um aumento de preço não explica a inflação. Não vale a pena controlar preços. Entretanto, se algum preço, os salários por exemplo, exigirem correção em função do poder de compra, isto é, do nível geral de preços, um aumento de custo qualquer será multiplicado por um número igual a 1 sobre 1- a participação deste produto na produção final. Em outras palavras, se algum setor for indexado, o aumento de qualquer preço gera um aumento de preço geral muito maior. No limite, se todos os preços forem indexados, um aumento em qualquer preço pode gerar inflação infinita. Para que a inflação não vá ao infinito é preciso que alguns preços pelo menos sejam rígidos nominalmente. A inflação de custos, isto é, causada pela variação de algum preço isolado, só é importante se houver indexação ou, propagação como este efeito era chamado pelos estruturalistas. NOTA Foram omitidas as notações de matriz. 1) O modelo de Leontieff para quantidades Dois produtos, x1 e x2. x1=x11+x12 + y1 x1 é a produção bruta, isto é, a produção destinada a produção de x1 mesmo e de x2, ou seja, x1 tem dupla contagem. A produção final de x1 que pode ser destinada ao consumo, investimento ou exportação é dada por y1 parcelas da produção de x1 que são usadas na produção de x1 mesmo e de x2, respectivamente. A mesma coisa para X2 x2=x21+x22 Hipótese sobre a produção de x1 e x2 – coeficientes fixos, isto é a11=x11/x1 ou x1=a11.x11 e em geral aij=xij/xj x1 usa L1 de mão de obra e x2, usa L2 Escrevendo em termos de matriz x1 a11 a12 x1 y1 = + x2 a21 a22 x2 y2 e x1 vezes L1 L2 =L x2 ou x=Ax+y (1) e xL=L onde x é um vetor coluna, A é a matriz de coeficientes técnicos e y é o vetor coluna de produtos finais. e L é o vetor linha de coeficientes de trabalho utilizado para cada produto e L o total de trabalho disponível de trabalho para a economia. Podemos reescrever (1) assim (I-A)x=y ou seja, a produção final é dada pela matriz identidade I , menos a matriz de coeficientes técnicos. e para saber quanto devemos produzir em termos brutos de cada produto, basta resolver para x, isto é, -1 x=(I-A) .y isto é, a matriz I-A invertida vezes o vetor y. 2) O modelo de Leontieff para preços. Supomos que cada produto gera uma margem de lucro dada por m1 para o produto x1 e m2 para x2. o preço de x1 é dado por p1=a11p1+a12p2+wL1+m1 p2=a12 p1+ a22p2 +wL2+m2 ou seja, o preço de p1 é igual aos custos de produção dados pelos coeficientes tecnicos de utilização de x1 e x2 vezes os respectivos preços unitários, mais o salário w vezes o coeficiente de mão de obra mais um margem m1. Em termos matriciais, podemos escrever o vetor de preços como p(I-A)=w.L+m -1 p=(wL+m) (I-A) onde p é um vetor coluna de preços e m um vetor coluna de margens. Resolvendo para p temos -1 p=(wl+m) (I-A) ou seja o vetor de preços é dado por (wl+m) vezes o inverso de (I-A) 3) O deflator implícito do produto pode ser definido como p= py/p0.y isto é o valor do produto nacional py medido a preços correntes sobre o valor do produto nacional a preços do periodo iniciaal, p0. -1 podemos escrever py=p=(I-A)x=(wl+m)(I-A). (I-A)x= (wL+m) X 4) A derivada de py/p0.y com relação a qualquer margem , levando em conta os efeitos diretos e indiretos é dada por xi/po.y isto é pela participação da produção bruta do produto cujo preço foi aumentado no produto nacional.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Aula 12 Monetaristas versus Estruturalistas

1) Milton Friedman afirmava que a inflação era um fenômeno monetário. Estava certo—o crescimento do nível geral de preços, isto é, do preço médio de todas as coisas ou do poder de compra do dinheiro—é um fenômeno que afeta o dinheiro. Do ponto de vista retórico, esta afirmação pretendia ser interpretada como a causa da inflação é monetária, isto é, um crescimento excessivo da oferta de meios de pagamento. 2) Na discussão da hiperinflação alemã, vimos como ela pode ser controlada pela fixação de um preço, a taxa de câmbio, que então possibilitou o controle do déficit público. Ou seja, a estabilização de um preço importante do ponto de vista macroeconômico, estabilizou a taxa de inflação. 3) O conceito de inflação de custos, por outro lado, coloca os preços determinados em mercados específicos como o fator mais importante do fenômeno inflacionário. Embora os monetaristas argumentassem que a “indisciplina” no processo de fixação de preços resultasse da passividade da oferta monetária. Isto é, decorria da atitude do governo que financiava a pressão por aumento de preços com expansão da liquidez. 4) Taxa de câmbio e outros preços importantes são portanto trazidos a discussão sobre a inflação, colocando a oferta de meios de pagamentos numa posição secundária. 5) Na aula de hoje, discutimos o artigo de Julio Olivera citado na bibliografia que apresenta uma “tradução” da teoria estruturalista da inflação para a “língua neoclássica”. 6) Olivera pretende explicar porque no período 1945-1980 os países latino americanos sofriam uma inflação latina—alta, permanente e crescente. Enquanto os Estados Unidos e Europa viviam a “creeping inflation” e nos países pobres do Sul da Ásia ( pobres naquele período) e da África não havia inflação. 7) Existem dois processos típicos de formação de preços. Nos setores competitivos—que produzem produtos homogêneos, de tecnologia conhecida, sem barreiras a entrada e onde existe um grande número de produtores—os preços não podem ser controlados por nenhuma empresa individualmente. Neste caso os preços são flexíveis e variáveis, respondendo com rapidez ao aumento ou redução da oferta de meios de pagamentos, ou a variações da renda nominal (YP). Nestes setores, funcionaria a teoria quantitativa da moeda. 8) Em outros setores, onde os produtos são diferenciados por marca, qualidade ou publicidade, ou onde existem barreiras a entrada por causa da tecnologia de produção ou por causa de economias de escala, o processo de formação de preços é controlado pelas empresas. Que fixam preços levando em conta os custos variáveis de produção sobre os quais fixam uma margem desejada de lucros, um “mark - up”. Nestes setores, variações de demanda nominal afetam mais a quantidade produzida do que os preços que são nominalmente rígidos. Entre estes setores funcionaria uma “economia keynesiana” onde variações de demanda afetam o emprego e os preços são nominalmente rígidos. 9) Agricultura, industrias tradicionais( como a agricultura, a indústria têxtil, vestuário, alimentação e outras) são setores competitivos com preços nominalmente flexíveis que amortecem a variação da produção e do emprego face a variações de demanda nominal. 10) O setor manufatureiro em geral, as indústrias com economias de escala ( siderurgia, automóveis, petróleo, química, etc) são setores com preços nominalmente rígidos, onde as variações de demanda agregada nominal afetam mais a produção e o emprego do que os preços. 11) As economias podem ser classificadas também em função de outras características dadas pela oferta. Estados Unidos e Europa teriam mercado onde existe maior mobilidade de fatores e elasticidades de oferta maiores. África e Sul da Ásia eram economias mais primitivas, com pouca mobilidade de fatores e onde a elasticidade de oferta é sempre menor. Ou, em outras palavras, seriam países onde a curva de possibilidade de produção tem convexidade mais pronunciada, ou custos mais crescentes quando se altera a composição do produto. 12) Podemos agora combinar estas duas características para criar uma taxonomia de inflações. 13) Estados Unidos e Europa têm uma grande participação do setor manufatureiro e de indústrias de ponta, isto é, a participação dos setores de preços nominais rígidos na economia é elevada. Sob este critério, uma variação de preços relativos (causada pelo aumento dos preços do petróleo, ou aumento de salários) criaria uma pressão inflacionária. Por outro lado, são paises com estruturas produtivas diversificadas, capazes de responder a aumentos de preço relativo pela substituição na produção ou no consumo. A inflação resulta do produto de variações de preços nominais decorrentes de um choque de custo (que é grande) vezes a variação de preços relativos ( que é pequeno) por que a variação necessária é menor, dada a alta elasticidade preço da oferta. Ou seja, inflação, mas inflação baixa. 14) África e Sul da Ásia teriam inflação resultante de grandes variações de preços relativos ( por que a elasticidade preço da oferta é baixa) multiplicada por pequena variação de preços nominais (porque nestes paises predominam os setores de preços competitivos (a agricultura) . Resultado—não há inflação. 15) A América Latina estaria numa situação intermediária. As variações de preços relativos são grandes por que a elasticidade de oferta é pequena (pouca mobilidade de fatores entre regiões, infra-estrutura inadequada) e participação elevada dos setores industriais. A combinação da presença de baixa elasticidade de oferta e alta participação de setores com preços nominais rígidos geraria a inflação latina. A América Latina seria um continente adolescente—suficientemente crescido quando se considera a participação da indústria com preços nominais rígidos na economia, mas ainda “infantil”quando se considera a flexibilidade do parque produtivo para substituir produtos caros por produtos baratos. 16) A inflação latina, entretanto, precisaria ser financiada por uma política monetária passiva , ou seja, ausência de instituições capazes de controlar a oferta de meios de pagamentos ( um Banco Central, por exemplo). 17) Por outro lado, como vimos na aula passada, a inflação de custos só é relevante se houver “propagação” ou indexação de preços ao nível geral de preços. Em outras palavras, se o valor do dinheiro for dependente da sua verificação, isto é, da comparação do seu valor com o nível gera de preços. 18) Na próxima aula, analisamos a taxa cambial como um preço especial já que assume papel importante na análise da inflação brasileira e da estabilidade da moeda nacional.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Aula 11 A hiperinflação Alemã

Primeira Guerra, estipulou pesados pagamentos de reparação para a Alemanha de forma a compensar os paises aliados pelas despesas e destruição provocadas pela guerra. A decisão sobre estes pagamentos foi analisada por Keynes no “As conseqüências econômicas da Paz”.
A Alemanha passa a ter uma dívida externa desproporcional a sua capacidade de pagamento.
No período posterior ao fim da Guerra a Alemanha passa a ter imenso déficit público, decorrente dos gastos militares da guerra aumentado pela dívida externa. A inflação é alta.
No ano de 1923, a taxa de inflação muito alta, cresce rapidamente e atinge um máximo em outubro deste ano, quando após um acordo de refinanciamento da dívida externa, a taxa de cambio é estabilizada e a inflação termina abruptamente.
É um período dramático. A economia alemã chega à paralisia total, com problemas de abastecimento e até de sobrevivência dos alemães. Erich Maria Remarque tem um romance que descreve o período.
A hiperinflação atingiu vários países da região que se chamava de Europa Oriental—Tchecoslováquia, Hungria, Áustria e Polônia. Países que tem características comuns: alguns são estados novos decorrentes do desmantelamento do Império Austro Húngaro, como a Tchecoslováquia e a Hungria. Todos estavam sob a influência do marco alemão.
O episódio é importante para entender a inflação, um dos temas deste curso.
A ocorrência simultânea de hiperinflação e pesada dívida externa lembra imediatamente o período de superinflação de vários países da América Latina após a crise da dívida externa em 1982. Brasil, Argentina, Chile e outros países apresentaram taxas de inflação muito altas e crescentes. Apenas a Argentina chegou ao que se pode chamar de hiperinflação—uma taxa de inflação tão alta e tão crescente que paralisa completamente as compras e vendas de qualquer coisa.
O trabalho clássico sobre a hiper alemã é de Bresciani Turoni. No curso analilsaremos o trabalho de Cagan, da Universidade de Chicago , citado na bibliografia e a tese de doutorado do Gustavo Franco que critica a tese de Cagan.
Bresciani Turoni e Cagan atribuem o controle súbito e bem sucedido da hiperinflação a reforma fiscal que acaba com o déficit público alemão. Franco explica o fim da hiperinflação a estabilização da taxa cambial do marco alemão.
A tese de Cagan. Cagan estuda a demanda de moeda e este é o foco principal da sua tese. A hiper alemã oferece um laboratório adequado para estimar a demanda de moeda: a renda alemã é estável e a taxa nominal de juros (igual à taxa de inflação mais a taxa de juros real) é extremamente variável.
Estima a taxa de juros nominal ou a taxa de inflação esperada usando expectativas defasadas. A inflação esperada é dada por uma média móvel ponderada com pesos exponencialmente decrescentes das inflações passadas. A partir destas expectativas conclui que existe uma demanda de moeda negativamente inclinada com relação à inflação esperada. A tese foi premiada à época.
A partir desta demanda de moeda estima a curva de receita total do imposto inflacionário. Como estimou demandas lineares ou log lineares, a curva de receita total decorrente é uma parábola com um ponto de máximo.
Usando suas próprias estimativas mostra que os países que tiveram hiperinflação estavam além do ponto de máximo na curva de receita do imposto inflacionário. Como a curva de receita total é uma parábola, a mesma receita total de imposto inflacionário pode ser obtida com duas taxas de inflação: uma taxa mais baixa e outra mais alta. Os paises com hiper inflação recolhiam o imposto inflacionário com esta taxa mais alta e maior do que a que gerava o ponto de máximo. Conclui que “haviam ultrapassado” o ponto de máximo e que a procura por mais imposto inflacionário aumentava a taxa de inflação, mas reduzia a receita, levando a hiper. A reforma fiscal e o fim do déficit público permitiram o fim da hiperinflação.
Franco contra argumenta usando as mesmas estimativas de Cagan.
A curva de receita total do imposto inflacionário representa diversas receitas de imposto inflacionário (II) que podem ser coletadas em pontos de equilíbrio sobre a curva de demanda de moeda, isto é, pontos onde a inflação esperada é igual à inflação observada. O fato de a economia estar além do ponto de máximo desta curva não é um desequilíbrio nem exige que o governo emita cada vez mais chegando a hiper. Pode estar numa situação desconfortável, com um imposto inflacionário igual ao que poderia ser obtido com outra taxa de inflação menor. Mas não é desequilíbrio nem leva a hiper.
Franco argumenta que o déficit fiscal poderia gerar hiperinflação se fosse maior do que qualquer ponto da curva de receita total de II. Ou seja, se o déficit público estivesse acima da curva de receita total. Neste caso, o governo emitiria cada vez mais e recolheria cada vez menos II.
O mesmo argumento poderia ser apresentado de outra forma.
II= (M/P)vezes a inflação esperada.
GS=(delta M)/ P onde GS é o ganho de senhoriagem.
Quando a inflação esperada é igual à observada, delta M/M é igual à inflação observada e substituindo em 19, II= (M/P).(delta M/M ). Simplificando, II=GS quando a inflação esperada é igual a observada.
Se a inflação esperada for maior do que a observada, o imposto inflacionário é menor do que o ganho de senhoriagem. Se a inflação esperada for menor do que a observada, II será menor do que GS.
Ainda em outras palavras: se a emissão de moeda provocar uma expectativa de inflação maior do que a inflação observada, o imposto inflacionário será menor do que o ganho de senhoriagem. O governo emite 100 e o imposto inflacionário é 80, por exemplo. Emite mais ainda, 200 e o imposto inflacionário é 90. Ou seja, ao emitir mais arrecada menos imposto inflacionário. Neste caso, temos hiperinflação, neste caso estamos acima da curva de receita total de II.
Usando os dados de Cagan, Franco mostra que apenas em alguns casos de hiper chegamos a esta situação. Na maioria dos casos analisados, II era maior do que GS e portanto a hiper não podia ser atribuída a excesso de emissão ou ao déficit público.
Franco conclui que o fim da hiperinflação resultou da estabilização da taxa de câmbio o que foi possível apenas depois de uma renegociação dos pagamentos de reparação da Alemanha com os Estados Unidos, o país que tinha reservas em ouro e emitia a a moeda que já passava a ser a a moeda mais importante da economia mundial.
A analogia com a situação dos países da América Latina depois de 1982 é evidente. O controle da superinflação destes países só foi possível após a renegociação da divida externa e a fixação da taxa cambial.
A discussão na América Latina e no Brasil se deu nos mesmo termos. Alguns economistas diziam que a inflação só seria controlada depois de uma reforma fiscal. Outros diziam que o controle do déficit público só seria possível depois que a inflação fosse controlada. Pois a inflação reduz o valor real dos impostos arrecadados.

Aula 10 Uma aritmética monetarista desagradável: expectativas racionais.

A partir dos anos 70, os Estados Unidos estavam envolvidos com a Guerra do Vietnã, o impeachment do Presidente Nixon, depois do caso Watergate, o movimento da contracultura com manifestações de rua contra a guerra e a discriminação racial. Era a época da guerrilha urbana, dos hippies, da droga, dos Panteras Negras, dos seqüestros de personalidades, da insegurança e pobreza nos centros urbanos das grandes cidades.
Em 1974, a OPEP, recém criada, eleva os preços do petróleo em 400%. Em 1979, os preços do petróleo são elevados novamente, o segundo choque do petróleo. Os países produtores de petróleo acumulam grandes reservas de dólares que são reemprestados pelos bancos americanos principalmente para os países da América Latina.
O governo brasileiro lança o II Plano Nacional de Desenvolvimento com investimentos pesados em uma nova onda de substituição de importações (bens de capital, matérias primas básicas como siderurgia e petroquímica, mineração, eletricidade e petróleo). Estes investimentos são financiados por dívidas em dólares usados para financiar o déficit do balanço comercial causado pelo preço elevado do petróleo. A economia brasileira cresce 6% a.a. apesar da recessão internacional. A inflação brasileira que se reduzia desde 1964 e chegava a 20% a.a. pula para 40% a.a. O país passa a racionar o consumo de gasolina que não é vendida durante os fins de semana, até a tarde dos domingos. Mais tarde, tem início o Proálcool com a introdução do etanol como combustível para automóveis.
A economia americana começa a apresentar taxas de inflação E taxas de desemprego crescentes. A curva de Philips estaria se deslocando para a direita.
Os monetaristas argumentam que a curva de Philips é um fenômeno de curto prazo. No curto prazo, mais inflação pode reduzir o desemprego, mas logo, trabalhadores e empresários “aprendem” como funciona a taxa de inflação e reagem adequadamente. Em prazo maior, a curva de Philips é vertical e a economia tende a taxa “natural” de desemprego. Que será chamada de NAIRU (non accelerating inflation rate of unemployement ou desemprego compatível com taxa estável de inflação).
O mercado financeiro internacional se desenvolve rapidamente desde os anos 60 com o aparecimento do mercado de eurodólar (mercado financeiro que usa o dólar como unidade de conta mas localizado na Europa e livre das regulamentações nacionais). Veja “Fear of Finance” , resenha da Economist citada na lista de leitura.
É o fim da era neoclássica ou keynesiana. Inicia-se a hegemonia do pensamento clássico, monetarista ou novo clássico. E a época da chamada globalização financeira.
Em 1979, Reagan assume o governo. Logo no início, enfrenta greve de controladores de vôo a que reage violentamente com demissão de todos os controladores. A reação governamental marca o ínício do enfraquecimento dos movimentos sindicais americanos que depois acontece no mundo inteiro.
Assim que assume, Reagan reduz impostos e aumenta o déficit público apesar dos cortes de gastos, particularmente na área social. O Federal Reserve eleva as taxas de juros para combater a inflação resultante do déficit público. A elevação dos juros torna os países da América Latina insolventes e ameaça de falência os bancos americanos, maiores credores da divida externa latina americana. Em 1982, na reunião do FMI no México, os bancos param de emprestar para a maioria dos paises latinoamericanos. As dívidas são renegociadas por comitês de bancos e pelo FMI. Os bancos americanos não podem lançar como débitos não cobráveis as dividas que possuem, sob o risco de irem à falência.
O artigo do Sargent trata da ineficácia da política monetária para combater a inflação quando há descoordenação entre as políticas monetárias e fiscal.
Friedman havia afirmado que a política monetária é capaz de controlar apenas a taxa de inflação. A taxa de juros real, o emprego e a taxa de crescimento da economia são dados e invariantes face a política monetária. A política monetária deveria apenas controlar o crescimento da base monetária que determina a taxa de inflação.
Sargent argumenta que no caso de falta de coordenação entre política monetária e fiscal (o caso da política econômica do Reagan de grandes déficits e taxas de juros muito altas), a política monetária não conseguiria controlar nem a taxa de inflação. Por isto é que o artigo se chama uma “aritmética monetarista desagradável”.
O argumento do Sargent pode ser resumido assim: se a taxa de juros real é fixada em nível maior do que a taxa de crescimento do produto, mais dia ou menos dia, esta dívida terá que ser monetizada. Se o público sabe que a dívida vai ser remonetizada, a inflação esperada no futuro será maior—mais base monetária , num modelo simples onde a demanda de moeda é dada pela Teoria Quantitativa da Moeda—implicará em mais inflação quando a dívida for resgatada por emissão de mais base ou mais moeda. Se a inflação esperada for maior no futuro, o público se livra da moeda imediatamente e a inflação sobe imediatamente.
As expectativas são racionais, isto é, baseiam-se no conhecimento completo do modelo macroeconômico que determina o comportamento da economia. No caso do artigo do Sargent, como a demanda de moeda é do tipo clássico, mais moeda significa mais inflação no futuro e mais inflação corrente. Nos modelos anteriores, do Friedman e do Cagan, que veremos nas aulas de hiperinflação, as expectativas eram determinadas pelo passado (expectativas defasadas) e especificadas como uma média ponderada das inflações passadas. Agora, as expectativas são formadas pelo conhecimento total do modelo. Os “agentes econômicos” reagem como se conhecessem o modelo macro da economia. É por isto que a política monetária passa a ser ineficaz.
A política monetária só produz efeitos sobre a produção e a renda se for inesperada, desconhecida pelos agentes, se for uma surpresa a qual não podem se adaptar.
O artigo é um clássico dos modelos de expectativas racionais. Com a hipótese de expectativas racionais, a economia passa a ser um “jogo” entre agentes econômicos e autoridades econômicas. Ambos conhecem o mesmo modelo e reagirão à política monetária imediatamente.
Noutra linha, aparecem os efeitos ricardianos. Os déficits públicos de hoje, geram expectativa de maiores impostos no futuro, destinados a cobrir este déficit. Estes impostos maiores são imediatamente descontados da renda permanente e reduzem o consumo corrente. A política fiscal passa a ser ineficaz também se os maiores gastos governamentais forem compensados por rendas permanentes menores e gastos menores de consumo do setor privado.
Assim, políticas monetárias e fiscais passam a ser menos capazes de alterar o ritmo de crescimento da economia ou da taxa de inflação.
Para os economistas novos clássicos, a instabilidade da economia capitalista resulta de movimentos reais inevitáveis (inovações tecnológicas, mudanças nos hábitos e na composição do consumo, eventos climáticos ou naturais) ou da tentativa do governo de aumentar o emprego acima da taxa NAIRU. Resgata-se o pensamento conservador. A economia deve ficar livre da intervenção do governo que apenas aumenta a instabilidade da economia. Mas o pensamento conservador volta renovado, mais radical e com argumentos mais fortes sobre a ineficácia das políticas keynesianas.
A idéia de expectativas racionais levanta vários problemas de método. Supomos que os “agentes” (não são mais trabalhadores e capitalistas, mas agentes, isto é, o trabalhador é também capitalista e o capitalista, trabalhador) usam o mesmo modelo que os economistas e as autoridades. Mas qual é este modelo? Clássico, ou keynesiano? Por outro lado, num mundo onde as finanças tem papel predominante, isto é, onde a bolsa de valores e os mercados financeiros são muito importantes, o modelo de expectativas racionais é um bom modelo. Rendimentos dependem do que os outros dependem do que venha acontecer. E não do que realmente acontece, pois o que realmente acontece pode tardar muito a acontecer. Num mundo onde a especulação é importante, as expectativas racionais são bom modelo. A questão é saber em que modelo a maioria acredita e quanto tempo leva para a realidade (o lucro prometido) aparecer.
Antes, os monetaristas insistiam no controle da taxa de crescimento da quantidade de moeda. Agora, num mundo em que o dinheiro não tem fronteiras e que o dinheiro assume várias formas—dívida pública de curto prazo, derivativos, e várias moedas—o controle monetária passa a ser sobre a taxa de juros
O artigo do Sargent levaria a conclusão de que a taxa de inflação brasileira deveria ser alta apesar das taxas de juros elevadas. Como a taxa de juros real tem sido de 10% a.a. enquanto a taxa de crescimento tem sido de 3% a.a. em média, nos últimos doze anos, o público deveria esperar que a dívida viesse a ser monetizada no futuro próximo, o que causaria um aumento na inflação esperada e na inflação corrente. Por isto é importante que a dívida pública tenha uma trajetória projetada de redução.
Um raciocínio de expectativas racionais também tem conseqüências importantes para a política cambial. O Banco Central compra dólares financiando estas compras com emissão de dívida pública. Se a dívida pública for vista como lastreada nas reservas do Banco Central, a compra de dólares em troca de dívida não alteraria a taxa cambial se a dívida for vista como ativo substituto dos dólares comprados. Assim, a taxa cambial não se reduziria pela intervenção do Banco Central.



Política Monetária, Fiscal e Inflação- Resumo do texto, por Fabio Stallemberg

Bibliografia – Dornbusch e Fischer, Macroeconomia, cap. 17, 5 ed.
Sargent e Wallace. “Some unpleasant monetarist arithmetic”.


Corrente dominante atualmente: Utilização da Política Monetária (PM) como instrumento de controle a inflação porém aliado a uma Política Fiscal que privilegie o equilíbrio orçamentário. Ou seja, necessidade de coordenação entre a PM e PF dado que a autoridade monetária controla a criação de moeda que é fonte de receita para o governo.

Sentido de causação

Déficit Público aumento da oferta monetária aumento de preços

1o - Moeda e inflação

Abordagem de acordo com a teoria monetarista

(1)  em que m é a taxa de crescimento da oferta de moeda e π é a taxa de inflação e ΔY é função positiva do crescimento na oferta de encaixes reais .

(2)  em que πe é a taxa esperada de inflação para o período seguinte, y é o produto corrente e y* é o produto potencial.

Assumindo expectativas adaptativas da forma πe = πt-1

Temos,

(2a) , produtos correntes maiores de que o produto potencial implicam um crescimento na taxa de inflação.











Figura 1 – Ilustra a dinâmica da eq. (1)
π < m0 , crescimento da oferta real de moeda e portanto do produto.
π > m0 , queda real na oferta de moeda e queda do produto.












Figura 2 – Ilustra a equação (2)


Unindo a Figura 1 a Figura 2, podemos representar a graficamente a dinâmica da inflação.












Figura 3 - Dinâmica de preços e produto

A velocidade de convergência para o equilíbrio é sensível a hipótese sobre as expectativas, por exemplo no caso de expectativas racionais o ajustamento é instantâneo.













Figura 4 – Dinâmica do produto e preços resultado de um aumento na taxa de crescimento da oferta monetária de m0 para m’.

Resultados de uma expansão monetária

Curto prazo – elevação de preços e renda
Longo prazo – apenas preços, sendo que , ou seja variação de preços é proporcional ao crescimento na oferta monetária. Isso porque na medida em que o tempo passa os agentes incorporam novas informações ao seu conjunto de informações, identificam a expansão monetária e ajustam suas expectativas. Os efeitos sobre o produto existem somente se Pe > ou < Pt .


20 – Inflação e taxa de juros

A expansão monetária não altera a taxas de juros real no longo prazo, apenas a nominal.

Efeito Fisher

(3) re = i - πe , em que i é a taxa de juros nominal e re a taxa de juros real esperada.
Na medida que os agentes passam a prever corretamente π, podemos escrever (3) como:

(4) i = r + π

Evidência de que os agentes acertam mais no longo prazo é dado pela a estrutura a termo das taxas de juros nominais nos EUA, em que as taxas de juros de longo prazo prevêem melhor a inflação do que as taxas de curto prazo.

Resultado de longo prazo - Uma expansão monetária é repassada integralmente aos preços que por sua vez é repassada, também integramente, para a taxa de juros nominal.

Resultado 2 – Uma expansão monetária produz uma redução no estoque de moeda. Por quê?

Um aumento na oferta de saldos reais provoca um aumento na taxa de juros nominal na mesma proporção. Isso eleva o custo de se manter moeda e o resultado é o encolhimento do estoque de saldo reais (condição de equilíbrio).


30 – Déficit Público e crescimento da oferta monetária.

Forma de financiamento do déficit
endividamento ou financiamento com títulos
senhoriagem ou expansão monetária.
A autoridade monetária escolhe a forma de financiamento dado que o governo incorreu em déficit.


(5.1)  - Restrição orçamentária do governo.

D(t) é o déficit primário, o primeiro termo da direita representa a expansão dos saldos reais enquanto o segundo representa a expansão do estoque de títulos menos os juros da dívida em termos reais.

Déficits transitórios – resultado de um corte de tributos, por exemplo.



Texto do Sargent e Wallace

Considerado o efeito de cada forma de financiamento do déficit público qual a política ótima do banco central no que tange a trajetória de inflação.

Para Friedman as autoridades monetárias exercem significativo controle sobre a inflação especialmente no longo prazo.

Para Sargent a política monetária descolada da política fiscal não é eficiente nem mesmo para controlar a inflação.

Conclusões do artigo

Se a taxa de juros real maior do que a taxa de crescimento do produto e existe um limite superior para o endividamento a política monetária ótima ( que minimiza a trajetória da inflação) é a menos rígida. Isso porque no futuro, quando o limite de endividamento tiver sido atingido, as necessidades do governo terão crescido em função dos maiores pagamentos de juros o que exigirá então uma maior expansão monetária e portanto uma maior inflação no futuro.


O modelo.

Hipóteses –

1. N(t+1) = (1+n) N(t) em que n é constante e N(t) é a população ou o PIB em t;
2. Retorno real constante sobre os títulos do governo, R;
3. Demanda por moeda de acordo com a TQM;
4. Dívida do governo tem vencimento em 1 período;
5. A autoridade monetária toma D(t) como dado;
6. Quando T é atingido o estoque da dívida relativo não pode mais ser aumentado
7. Os agentes têm conhecimento da seqüência de D(t), de T, da trajetória da política monetária e portanto prevêem corretamente os preços futuros.

H(t) estoque de moeda (M1)
B(t) é o estoque de títulos
t = 1,2, ..., T é o presente , sendo que T é quando o governo atinge o endividamento limite;
t = T+1, T+2, .... é o futuro, quando o governo não consegue aumentar mais seu endividamento como proporção do PIB.

Se dividirmos 5.1 por N(t) considerando N(t) = (1+n) N(t-1) e re-arranjarmos a equação para B(t)/N(t), temos:

(5.3) 

que é o endividamento per capita ou por unidade de produto

A TQM

(5.5) 

ou H(t) = P(t)N(t)h

Dado t > T e lembrando da hipótese (6), temos B(t)/N(t) = B(t-1)/N(t-1) = bθ(T) e,

(5.6) 

(5.7) 


De acordo com 5.7 o nível de preços futuro será tanto maior quanto maior for a diferença entre a tx de juros real e n e quanto maior o estoque de dívida per capita bθ(T). Como Sargent mostra que quanto menos rígida a política monetária menor bθ(T), então se concluí que políticas menos rígidas são ótimas no casos das hipóteses do modelo satisfazerem.

Efeito Cagan-Bresciani-Turroni

Se a demanda por moeda depende da inflação esperada então o preço corrente depende não apenas do nível de oferta monetária presente mas de todos os níveis antecipados. Dessa forma, a taxa de criação de moeda futura prevista pelos agentes tende a crescer a taxa corrente de inflação, limitando assim as possibilidades de uma política monetária rígida de manter mesmo a inflação corrente sob controle.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Artigo do Guardian publicado na Folhla sobre deficit publico e politica monetaria

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ANÁLISE
Uma reforma da legislação não é a resposta no atual momento
DO “GUARDIAN”
Esqueça a Grécia. A crise da Espanha foi causada por uma bolha imobiliária, não por gastos públicos excessivos. É também essa a causa principal do alto índice de desemprego espanhol, já que quase um terço dos desempregados é feito de operários da construção demitidos quando a crise financeira paralisou as construções.
Por sua vez, a bolha imobiliária ameaça o sistema dos bancos, enquanto o desemprego reduz o consumo. A combinação disso faz com que seja difícil para a Espanha conseguir empréstimos internacionais.
Assim chegamos à pergunta que vem ao caso: o que uma reforma trabalhista tem a ver com isso? A resposta: não muita coisa, na verdade.
Como os salários na Espanha são espantosamente baixos e o desemprego está em chocantes 23%, os custos da mão de obra e a "rigidez" não devem ser o problema que precisamos resolver. Isso não quer dizer que as mudanças não terão efeitos. Terão, mas no sentido errado.
Há poucas dúvidas de que, no contexto de uma recessão, mais flexibilidade significa mais demissões, mais contratos de curto prazo e salários mais baixos. Isso terá o efeito imediato de elevar o lucro dos empregadores, mas acabará prejudicando-os mais adiante, na medida em que as famílias terão menos renda disponível.
Por que, então, o governo espanhol está focando nisso? Infelizmente, acho que ele quer que seja visto "fazendo alguma coisa" para combater a crise, e mexer com uma lei é muito mais fácil e visível que começar a mudar o modelo econômico.
É fácil entender por que os governos não sabem o que fazer; ninguém sabe. Mas precisamos parar de nos iludir.
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